segunda-feira, 14 de março de 2011

A saída do Muricy e outros pitacos


"Eu troco de mulher mas não troco de time!". Esse é um dos clichês mais usados no mundo do torcedor de futebol. Serve para exemplificar, de forma límpida, a paixão que nos assola por um clube. Nick Hornby, no seu espetacular Febre de Bola, já contou a saga do torcedor apaixonado e, todo mundo que está apaixonado por alguma coisa ou alguém, tem a tendência a ficar cego diante de alguns fatos que vão contra a sua percepção da coisa ou do ser amado. E Muricy, com o título brasileiro, era amado por grande parte da Torcida Tricolor.



Este começo de temporada do Flu não vem sendo bom. Estamos no limite de erros na Libertadores e perdemos a semi-final da Taça Guanabara para o Boavista. Foi consenso que Muricy errou em diversas escalações, e, mesmo assim, a torcida sempre manteve a paciencia na espera por dias melhores, os dias em que o time "encaixaria". Somente um treinador com tanta aceitação suporta resultados ruins no Campeonato carioca, competição que parece ter como objetivo principal derrubar treinadores. E Muricy passaria sem problemas por resultados ruins, afinal, todo mundo conhece a vocação dele em ganhar Brasileirões. E quem consegue ler nas entrelinhas, soube que o Muricy já não contava com bons resultados na Libertadores, pois declarou várias vezes que "mata-mata é sorte". Era lógico e evidente que a desculpa já estava na ponta da língua.

O que sempre estranhei no Muricy foi o fato dele não ter indicado ninguém para a comissão técnica. Trouxe o seu auxiliar, Tata, e o técnico que editava os vídeos e alguns dados a mais. Preparador físico, de goleiros, coordenador, etc, ele utilizou os profissionais que estavam no clube. Me parece estranho que, pensando a longo prazo, não procurasse trazer pessoas da sua confiança. Um cara que fala tanto em estrutura, não pode prescindir disso. Sempre me pareceu que estava ali provisoriamente, até porque, nunca trouxe a família para o RJ e pegar o vôo da Ponte Aérea sempre foi prioridade, mesmo em detrimento aos profissionais da imprensa que aguardavam uma coletiva após o jogo do final de semana.

Todo mundo lembra o episódio onde ele negou a Seleção Brasileira. Manteve o contrato em nome da honra, de mostrar exemplo para os filhos e tal. Se foi assim mesmo, por quê foi conversar com o Ricardo Teixeira, em público? "Ah, era sonho treinar a Seleção. Tinha que pedir autorização do Flu para sair". Balela. Todo mundo no Fluminense já dava como certa a saída do Muricy, e o Fluminense jamais iria barrar sua saída. O que aconteceu é que não houve acordo com a CBF e o Muricy pediu ao clube que segurasse essa onda. E quem segurou foi o Alcides Antunes, mestre na arte de jogar pra imprensa. Isso ele faz como poucos. Muricy saiu como herói da virtude e o Flu como o vilão, que impediu o grande Muricy de treinar a seleção. Por que o Muricy não aceitou a proposta da CBF? Boa pergunta. Muitos dizem que não obteve garantias de continuar até 2014, salários bem mais baixos, não aceitar ingerência do Ricardo Teixeira na escolha dos amistosos. São muitas as versões. Quem sabe não foram o conjunto delas?

Sobre o fato, inquestionável, da nossa falta de estrutura, o Muricy estava mais do que certo em cobrar. Isso não resta qualquer dúvida. Nossa estrutura talvez não seja a pior entre os times da série A, mas está entre as últimas. O que é errado é o questionamento em público, através da imprensa. Isso gera um desconforto institucional grande, desnecessário, a meu ver. E me pareceu, com toda sinceridade, desculpa para um pedido de demissão futuro. já que "não rompo contratos, A NÃO SER QUE OS DIRIGENTES NÃO CUMPRAM COM SUAS OBRIGACÕES". Nem é preciso dizer que a rota de fuga já estava com todos os planos impressos.

O Muricy sabia da estrutura. E sabia que a gestão anterior não tinha a mínima competência para implanta-la. Estou completamente confortável para falar sobre esse assunto pois apoiei o candidato derrotado na última eleição, principalmente por acreditar que ele tinha a capacidade de se contrapor ao modelo de patrocínio vigente hoje, modelo este baseado numa estrutura amadora, onde quem tem o dinheiro efetivamente tem o poder total, relegando a um segundo plano o fato de que é uma parceria. Não um mecenato. Então, vou falar sobre a atual gestão.

Eu, como todos os torcedores mais fanáticos, queríamos mudanças estruturais imediatas. E a manutenção do Status Quo, foi uma ducha de água gelada. Manter Alcides Antunes? Mas como? Não se tinha dito que ele não participaria da nova gestão? Cadê os planos do CT? Todo mundo cobrou. Pra ontem. A Flusócio, grupo que fiz parte durante bons anos, e que é a base de sustentação política do Peter, se tornou, da noite para o dia, vidraça. E sempre foi a pedra. Isso aguçou muita gente, que estava na expectativa disso acontecer, somente para ver a reação do grupo às críticas. E tome críticas, mesmo sabendo que os gestores tinham apenas 2 ou 3 meses à frente do clube. 2 ou 3 meses. Não se sai de uma medíocridade tão grande em tão pouco tempo. Impossível estruturar um CT, um Departamento de Futebol, em tão pouco tempo e com tantas dívidas e falta de recursos. E o Muricy sabe disso. E o Muricy sabe que estão correndo para trazer uma melhor condição de trabalho. Xerém começa a ser reformado em alguns dias. Em algum tempo, já seria possível fazer, pelo menos, os trabalhos em período integral lá. Chegam pela manhã, e saem à tarde. Muricy disse que era longe. Atenção: disse que era longe. Será que ele iria a pé?


A manutenção do Alcides Antunes é explicada pelo apoio dado a ele por Celso Barros. Como Celso Barros foi o principal ator da campanha do Peter, é muito fácil perceber que não se tinha absolutamente nenhuma força para tirá-lo do cargo. Aliás é pertinente perguntar por que se agarrar tanto a uma posição não remunerada. Alimentar o Ego? Vaidade? Amor ao clube? Eu também não tenho a mínima noção do porque desse amor do celso Barros ao Alcides Antunes, assim como não sei o porque do Muricy ter demonstrado apoio a ele. Realmente não sei. Para mim, Alcides Antunes e Profissionalismo são entidades excludentes entre si.


O fato é que Alcides Antunes nunca foi unanimidade entre os jogadores. Muitos deles não aceitam as facilidades dadas a alguns e que geram tanto amor por parte destes. Mas, como já disse, o Alcides Antunes é mestre na arte de jogar com a informação na imprensa. Gostaria que ele tivesse usado esta arte para conseguir um CT, melhores equipamentos, condições de trabalho para o staff do segundo escalão, que ralava pra caramba e nunca foi valorizado, etc, etc, etc.

O começo do trabalho na nova diretoria tem muito mais acertos do que erros. O programa GT começou de forma desorganizada e amadora. Parece que estão acertando. Xerém receberá muitos investimentos e contratou gente muito boa. A contratação de um gestor profissional do futebol e a colocação de um vice-de-futebol com perfil político, me parece o cenário ideal para um clube com a estrutura estatutal do nosso clube. Uma das perguntas que me faço é o por que da manutenção do setor jurídico do clube. Não estou falando da questão da nossa defesa no tribunal da Federação, muito bem conduzida pelo Dr. Mário Bittencourt. Falo do jurídico da gestão passada. Absolutamente todos os contratos tão criticados pela nova gestão, inclusive BWA, passaram pelo jurídico, que foi absolutamente todo mantido. Isso, me parece, precisa ser melhor explicado, pois todo o resto foi mudado. Por que não o jurídico?

Pra finalizar, vamos falar sobre a saída do Muricy. Desde quarta-feira, O Márcio Rivellino estava negociando a rescisão com a Unimed. O contrato é com a Unimed, portanto, a rescisão, acordo de multa, é tudo com ela. Não sei dos termos. Aliás, tudo que se refere a contratos com a Unimed é uma tremenda caixa-preta. É o tal acordo de privacidade ou confidencialidade, sei lá. Muricy já estava com proposta do Santos, mais de R$ 1 milhão, CT pertinho de casa, em Santos (Muricy tem sítio em Bertioga, bem perto). Cenário ideal para ele. Sexta-feira já tinha sido tudo acordado. Muricy saiu porque quis. Rompeu o contrato com o Fluminense e vai alegar falta de estrutura, política, etc. Ok. Saiu pela porta dos fundos. Treinou o time nas últimas semanas sabendo que iria sair. Negou o atrito com o Alcides Antunes, mesmo sabendo que TODOS nas Laranjeiras sabiam do fato, afinal, ninguém é cego ou surdo. A saída do Alcides Antunes nada teve com a decisão do Muricy. Eu acredito que a decisão de demitir o Alcides no sábado, foi uma última tentativa de mostrar ao Muricy que o futebol estava mudando, que não teremos mais espaço para amadorismo e que, por consequencia, o poder do Celso Barros pode começar a diminuir. Mas, não adiantou. Muricy já tinha decidido. E saiu sem falar com a imprensa, pela porta dos fundos do Engenhão. Capítulo final triste para o melhor técnico do Brasil e atual campeão brasileiro.

E quem gostou foi o Celso Barros, que deu um restart no seu Football Manager particular.

Essa é a minha visão pessoal dos fatos. Posso estar certo ou errado, mas estou convicto. Abração e até a próxima.

Beto Meyer - Torcida Tricolor

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