sexta-feira, 4 de março de 2011

Errar é humano



Caríssimos,
Eu poderia vir aqui e escrever sobre o abominável plano otá... digo, “Guerreiro Tricolor”, que, além do nome de gosto duvidoso, segue fielmente a linha vamos-matar-a-galinha-dos-ovos-de-ouro, como todos os outros planos focados no torcedor que o antecederam, desrespeitando e abusando da torcida.
Mas este, infelizmente, já não é um tema novo.
Poderia falar sobre a asquerosa relação do Tricolor com seu patrocinador e o inevitável conflito de interesses entre os dois.
Talvez por culpa de tantos insucessos seguidos, parte da torcida ainda não enxergue o malefício que este relacionamento promíscuo traz, seja na prática, dentro de campo e fora dele, seja na alma, na auto-estima de todos nós.
Afinal de contas, enquanto vassalos do mecenas, ao longo de uma década inteira conseguimos conquistar a primazia nacional. Mas é bom que lembrar que, também ancorados ao mesmo lodo, brigamos para não cair. E mais de uma vez.
Reparem que o parágrafo acima é inútil por essência. Vale apenas para rebater, com a mesma e estúpida objetividade, o argumento que justifica a dependência, de que não há futuro sem que se venda a alma ao diabo (em tempo: O Botafogo - só para encerrar este ponto -, clube que todo tricolor gosta de fazer de chacota, hoje caminha com suas próprias pernas. Não tem padroeiro, nem mecenas. Não tem dono. Já teve. Já deixou a década de oitenta para trás. Nós, ao que parece, não).
Este, porém, também é assunto velho.

E também - encerrando aqui a série “do que não tratarei” - não falo sobre a vergonha que me causa nossa fraqueza institucional. Já se sabia e se esperava, mas ainda assim dói vê-la escancarada nos jornais e nas esquinas as dúvidas: “Alcides sai, ou não sai?”, “Mas Alcides não foi motivo de murro na mesa?”, “Mas quem manda no futebol, não é o outro Presidente?”, “Que Presidente?”.

Uma situação que ainda não é explorada de maneira mais firme porque parte da imprensa é comprometida, como já se percebia antes de eleição e ficou claro depois dela... e porque o jornalismo “chapa branca” impera, nestes tempos de guerras globais por direitos de TV.

Do que trato, então?
De Muricy Ramalho.
Assumamos antes que somos capazes de nos convencer de tudo, quando queremos acreditar em alguma coisa.
Chegamos até a nos sentir honestos ao agir de uma determinada forma, mesmo que no fundo saibamos que nada daquilo é certo, que no fundo os motivos são bem outros.
É o que acontece com parte da torcida do Flu em sua relação com Muricy.

Dirá um torcedor tricolor que estou redondamente enganado, que não é nada disso. Que o fato irrefutável são as atuações do time, a defesa desprotegida, o meio de campo pouco criativo, as constantes mexidas no time, muitas delas incompreensíveis.

Insisto: temos quase prazer em sermos mais realistas que o rei. Que gostamos de desafiar o óbvio, a unanimidade. E de, se possível, sermos os primeiros a desafiá-la (se assim não for, que sejamos os mais corajosos, os mais veementes ao desconstruí-la).

Tá maluco, ou não tem acompanhado os jogos?

Já imagino a pergunta e respondo que vejo todos, na maioria das vezes ao vivo.
Sim, Muricy erra.
Desde a inconcebível não-inscrição de Diogo no grupo que joga a Libertadores (deve ter algum motivo, mas não tenho como perguntar e então, do alto da minha ignorância, para mim é erro), passando pela prematura efetivação de Cavalieri e, também na opinião deste que vos escreve, na demora em retornar ao 3-5-2 como deve ser.

O ponto, porém, é outro.
É que nosso treinador não é um sujeito agradável. Não é bom moço como o Tite, ou emotivo como o Cuca, tampouco tem raízes tricolores (?) como o Ricardo Gomes. Nosso técnico é “caipira”, é “chucro” e “mal humorado”.
Mas acima de tudo, e aí está o grande pecado, Muricy não quebra.

Não reclama de arbitragem, não passa a culpa para ninguém, não faz qualquer tipo de mise-en-scènedestas que se vê em qualquer entrevista coletiva. Não esperem do campeoníssimo técnico do Flu frases de efeito, como as de Renato e Joel.
Voltando ao sujeito que quer se convencer de uma razão que não tem, a verdade é que desde o ano passado ouço ferozes críticas contra nosso treinador. Desde o ano passado qualquer demora para fazer uma substituição era alardeada, nas arquibancadas, como a permanência de Alcides Antunes, ou a mecenato-dependência infelizmente jamais foram.

Errar é humano e repito: Muricy erra.

E agora adiciono: o torcedor, também.

E errará mais ainda se começar a cair no conto das seguidas matérias que começam a pulular pela mídia, todas levando a crer que o problema do Flu, de alguma forma, reside no treinador.

A já antiga falta de estrutura - e se for para dizer frases feitas do tipo “CT não se faz de um dia para o outro”, coloquem um pipoqueiro de presidente, que dará no mesmo -, contratar jogadores com saúde comprometida, a vinda destes mesmos atletas ser imputada por quem deveria apenas estampar o nome na camisa, preparador de goleiros reconhecidamente fraco, preparação física inconcebivelmente blindada, queda de produção de jogadores fundamentais como Conca... a lista é grande e explica muito do porque claudicamos neste início de ano. Mas é solenemente ignorada.
Espero de verdade que não deixemos nossa natureza predatória falar mais alto, apenas pelo prazer do desafio, de enfrentar o inabalável, de tocar no sagrado.
O mundo não se encerra em Muricy. Claro que não.

Mas lamento profundamente constatar que o Fluminense não faz, nunca fez, parte do mundo de Muricy (peço um pequeno retrospecto dos nossos últimos treinadores, por favor).
Com muito boa vontade, Muricy é o menor dos problemas. Porque não o é.

Que aguente no Flu ainda por um bom tempo.

Enquanto o foco das críticas tem que ser outro.

Na verdade, tem que ser o mesmo.

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